Para contar esta história nem sei bem, por onde começar... Mas vou começar do inicio

Corria o ano de 1975, tinha o meu pai na altura 21 anos, trabalha à cerca de 3 (na empresa que ainda hoje trabalha)... E o gosto pelo automobilismo e motociclismo, leva-o a pensar em comprar uma moto...
A marca, claro está, recai numa Japonesa, e neste caso na Honda... Depois de ver algumas imagens decide, escrever uma carta à IBA - Importador nacional da Honda na altura, a pedir uma tabela de preços e ainda um catálogo ou informação sobre a Honda Cb 250...
Eis que passado alguns dias recebe isto:



Tudo orientado e depois de entrar em contacto com o vendedor, marca uma ida a Lisboa para ver motos. Depois de uma longa viagem de autocarro ou comboio (não se recorda bem), chega à IBA e está lá uma CB 200, o vendedor bem lhe quis tentar dar a volta, mas o meu pai achava-a uma moto muito pequena. Eis que aparece o chefe e diz que está lá uma CB 250 de 1973 (já com disco à frente), de um Doutor com cerca de 1000 km e que poderia vender, pois o actual dono não se importava, pois não andava nela... Estava nova, segundo o meu pai, eis que custava menos 4 contos que uma nova... A decisão foi fácil: COMPRADA...

O vendedor ofereceu dois capacetes laranja "SHOEI" ao meu pai, o qual ele ofereceu a um amigo que costumava andar com ele...

Muios quilómetros foram feitos... Alguns sustos... E uma grande queda (o ano não se recorda), partiu uns piscas, mais umas moças, escapes... Algumas mazelas, devido a um cão que se atravessou à frente.
Em 1985 ou 1986... a moto com cerca de 20 mil km, decide vender, pois eu tinha nascido à pouco tempo (1983) e havia outras oportunidades... Ainda retirei uma foto em cima dela, para recordar


Em maio de 2010, ando eu a distribuir cartazes do ENBA 2010, por oficinas e na Vila da Batalha, entro numa e coloco um cartaz e à conversa com o dono, peço para dar uma volta pela oficina e ver o que tem por lá... Qual não é o meu espanto que por baixo de umas caixas e carregada de pó, está uma Sachs Prior dos anos 60, igual à do meu pai (a primeira motorizada dele)...Peço para ver e pergunto informações sobre a mesma, quando fico de boca aberta, com a história que ele me conta. Pois tinha ido buscar a moto à muitos anos, precisamente para onde o meu pai a tinha vendido na altura... Depois de confirmar a história em casa, decido lá ir novamente e ver um ou outro pormenor que o meu pai ainda se lembrava... Dai a comprar foi uma questão de dias...
Na semana seguinte, decido ir ao famoso OLX e procurar Honda CB´s 250… Existiam várias e duas de 1973, eu como tinha a foto, despertou-me a atenção a cor desta, chamo o meu pai e pergunto, podes-me dizer a matricula da tua moto… E ele…. Olha para o monitor, e só me diz: “ai… a minha moto…”
Quase que se emociona e logo me diz: liga para ver se negoceia o preço e vamos lá buscá-la…
Tentei 4 vezes e nada, à 4 ou 5 vez lá me atendem e informam que a moto já tinha sido vendida à 3 dias… Foi duro de ouvir, acreditem…
E depois de eu contar a verdadeira história, mesmo assim o vendedor negou em me dar o contacto do actual proprietário…
Isto passou… Passaram-se meses…
Em Agosto, ao conversar com uma amiga, lembrei-me de lhe pedir informações sobre uma matricula assim, assim… E nunca mais me disse nada… Quando na ultima semana de Novembro recebo um email a informar do actual proprietário da moto…
Fiquei tão nervoso, e com uma dor de barriga enorme (tipo quando organizo o ENBA, lol)… Que passei muito mal a noite…
No dia seguinte já estava a entrar em contacto com o Srº… de Sesimbra! Entrei com cuidado e no fim de me dizer que não pretendia vender a moto, enquanto não encontra-se uma 750… Percebi que mais tarde ou mais cedo iria vende-la… Ficou com o meu contacto e contei-lhe a história…
Na segunda feira antes do Natal, recebo um email, a aceitar a minha oferta… Fiquei sem palavras mesmo, nem queria acreditar que ia buscar a primeira moto do meu pai… Iria ser a grande surpresa e presente de natal para ele… Ainda por cima uma Honda e em perfeito estado…
Terça feira ligo a um amigo meu e de noite, com uma mentia pregada ao meu pai, la arrancamos para Sesimbra… Chego, vejo, ando e faço negócio…
Fica guardada até dia 24… Ao final do dia, vou buscá-la a casa do meu amigo… Chego a casa com ela, o meu pai vem à rua, olha para mim, para a moto e fica quase sem reação… Mete as mãos à cabeça… emociona-se… abraça-me e nem quer acreditar… “A minha moto”… Fica sem forças e mete-se em cima dela e vai dar uma volta… Eu emociono-me também…

E eu que gosto de fazer / receber surpresas… esta jamais esquecerei… E como o meu pai diz: “a melhor prenda de natal de sempre”…
Mais palavras? Só mesmo ele para vos contar…


