Faleceu Salvador Caetano

Iniciado por Kaizen, 27 de Junho de 2011, 14:43

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Kaizen

ÚLTIMA HORA: Morreu Salvador Caetano

Empresário sofria de doença prolongada. Por Redacção  JF    2011-06-27 15:03


O empresário Salvador Caetano faleceu esta segunda-feira, informou fonte do grupo à TVI, cerca das 14h. O empresário sofria de doença prolongada e estava internado no Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos.

Fundador do grupo com o mesmo nome, era representante da marca Toyota e da BMW em Portugal.
Natural de Vila Nova de Gaia, onde aliás instalou o primeiro pólo industrial do grupo, Salvador Caetano faleceu hoje aos 85 anos de idade.
Salvador Caetano tinha 85 anos e natural de Vila Nova de Gaia, onde aliás instalou o primeiro pólo industrial do grupo que fundou.

Originário de uma família numerosa, foi obrigado a trabalhar cedo e, segundo informação disponível no Wikipédia, começou, por intermédio do pai, como pintor de carroçarias. Mais tarde, especializou-se na reparação de autocarros na empresa Gondomarense.

Em 1946, depois da II Guerra Mundial, estabelece-se na indústria das carroçarias com pequena firma que se tornou no embrião da Toyota Caetano Portugal, S.A.

Salvador Caetano fica à frente do grupo, e em 1961 fornece 12 autocarros aos STCP, a que se seguem outras importantes encomendas: em 1967, consegue o primeiro contrato de exportação de autocarros para Inglaterra e em 68 torna-se representante exclusivo da Toyota em Portugal.

Criou várias unidades industriais pelo país, mantendo sede em Vila Nova de Gaia. Na década de 80 torna-se também importador da marca BMW, e cria a Baviera.

Em 1996, ao comemorar os 50 anos de actividade, Salvador Caetano tinha criado ou adquirido 50 empresas.


in Agência Financeira
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Morreu Salvador Caetano
Empresário tinha 85 anos

Morreu Salvador Caetano, empresário, fundador do grupo com o mesmo nome e primeiro representante da Toyota em Portugal. Salvador Caetano morreu ao final da manhã de hoje aos 85 anos.


Salvador Fernandes Caetano nasceu a 2 de Abril de 1926, em S. Lourenço, Vila Nova de Gaia. Segundo o DN, o empresário sofria de doença terminal, sendo que o seu estado de saúde se debilitou no passado fim-de-semana.

Salvador Caetano começou a trabalhar com onze anos, estabelecendo-se por conta própria aos dezoito, e com vinte anos criou a empresa Martins & Caetano & Irmão, Lda, uma fábrica de carroçarias, que seria o embrião de Toyota Caetano Portugal, SA, e do próprio grupo.

O empresário gaiense fechou o primeiro contrato de exportação de autocarros em 1967 para Inglaterra, que ainda hoje é um dos principais mercados da empresa.

Um ano depois, tornou-se representante exclusivo da Toyota em Portugal, construindo uma das melhores unidades industriais de montagem de automóveis em Ovar, inaugurada em 1971.

A partir dessa data, o crescimento da empresa e a expansão dos negócios alargam-se a todo o país, e mais tarde ao estrangeiro, passando igualmente pela diversificação de produtos e atividades.

Ao comemorar os 50 anos de atividade – em 1996 – Salvador Fernandes Caetano, tinha criado ou adquirido 50 empresas dos mais diversos setores de atividade.

Salvador Fernandes Caetano foi distinguido com o Grau de Comendador da Ordem de Mérito Agrícola e Industrial pelo Governo português, foi agraciado pelo Governo Japonês com a Ordem do Tesouro Sagrado, e distinguido com as medalhas de ouro das cidades de Gaia e Ovar.


in ionline
Rui Coelho
Associado AJA Nº1

Toylex

Uma enorme tristeza, é o que consigo expressar neste momento, estou abalado, este homem é responsável por algumas boas alegrias que vivi e vivo ao volante dos carros que ele trouxe para Portugal...

As condolências à família e a todos que o admiram como eu...
José Manuel Santos - Sócio AJA nº51

Santos Silva

Pode parecer estranho (a mim parece-me) mas, no fim-de-semana, numa altura em que estava sossegado e a pensar na vida, relembrei os anos que passei no Grupo S C e passou-me pela cabeça que um dia destes iria falecer a única pessoa naquele grupo que eu realmente considerei como um verdadeiro ser humano.
Quando hoje ouvi a notícia foi com alguma tristeza e admiração pelos meus pensamentos premonitórios ::)

Dele lembrarei a afabilidade e o trato preocupado com os seus semelhantes; o espirito de futuro; o inconformismo.

A esta hora estará junto do seu grande amigo Artur Agostinho

Que fique em paz, ele que nunca se rendeu e que nunca parou.


Santos Silva
Sócio Fundador nº7

JONAS1200

Partiu hoje Salvador Caetano, fundador do grupo com o mesmo nome, responsável pela entrada da Toyota em Portugal, no final dos anos 60.... Um dos grandes responsáveis pelo sucesso dos automóveis japoneses no nosso país.

In site RTP

Nascido em Vilar de Andorinho, freguesia de Gaia, a 2 de abril de 1926, numa família numerosa, Salvador Fernandes Caetano apenas completou a escola primária, sendo obrigado depois a ir trabalhar para ajudar os pais a sustentar a família.

Aos onze anos de idade inicia-se por iniciativa do pai como pintor nas carroçarias de castro Reis. Jovem com grande ambição cedo pretende lançar-se nos negócios. Não demora muito tempo a abandonar o emprego e a dedicar-se a trabalhar sozinho na reparação dos autocarros da empresa de viação Gondomarense.

Corria o ano de 1946, no pós guerra, com a Europa a trabalhar na reconstrução, Salvador Caetano então com 20 anos decide estabelecer-se na indústria de carroçarias em sociedade com o seu irmão Alfredo e com Joaquim Martins, criando então a empresa Martins & Caetano &irmão Lda. Esta pequena empresa viria a ser o embrião da toda-poderosa Toyota caetano Portugal S.A. e do próprio grupo.

Mas pouco tempo depois do arranque do negócio que conheceu tempos conturbados os seus sócios decidem abandonar a sociedade que fica entregue em exclusivo a Salvador Caetano.

Pioneira em Portugal, quer na técnica de construção mista, usando perfis de aço e madeira, quer posteriormente nas carroçarias fabricadas integralmente em metal que introduziu em 1955, a empresa depressa ganha a confiança de importantes clientes.

Em 1961, Salvador Caetano fornece 12 autocarros de 2 pisos ao Serviço de Transportes Colectivos do Porto, uma encomenda de peso, que abriu caminho à exportação.

A internacionalização chegou em 1967, quando assinou o primeiro contrato de exportação de autocarros para Inglaterra, que ainda hoje continua a ser um dos principais mercados da empresa.

Em 1968, torna-se finalmente o representante exclusivo em Portugal da Toyota, e constrói uma das melhores unidades industriais de montagem de automóveis em Ovar no ano de 1971.

Tal como dizia então o spot publicitário, a representação veio para ficar e ficou mesmo. A empresa cresce e a expansão do negócio alarga-se a todo o país e ao estrangeiro. Salvador Caetano com visão para o futuro alarga e diversifica os produtos e a sua atividade.

Com 50 anos de atividade – em 1996 – Salvador Fernandes Caetano, tinha criado ou adquirido 50 empresas dos mais diversos setores de atividade.

O empresário foi distinguido com o Grau de Comendador da Ordem de Mérito Agrícola e Industrial pelo Governo português, foi agraciado pelo Governo Japonês com a Ordem do Tesouro Sagrado, e distinguido com as medalhas de ouro das cidades de Gaia e Ovar.

O corpo vai estar em câmara ardente na capela de Santo Ovídio, em Gaia, indo a enterrar no cemitério de Vilar de Andorinho, freguesia de Gaia onde nasceu há 85 anos.
João Amêndoa
Associado AJA Nº28

Kaizen


Salvador Caetano morreu hoje aos 85 anos. Veja aqui a entrevista dada pelo fundador da empresa do sector automóvel ao Negócios em 2004.

"...um dia, o Drº S. Toyoda [fundador da multinacional Toyota], ao ver-me chegar, e apesar de estar acompanhado, não resistiu e chamou-me de 'strong man' (homem forte), o que provocou uma certa graça entre os presentes." É com revelações como esta que é feita a biografia "Salvador Caetano – Fragmentos de Uma Vida", ontem apresentada na sede do grupo, em Vila Nova de Gaia, e que passa em revista os 78 anos de vida de Salvador Caetano e os primeiros 50 de um total de 58 anos que leva como empresário.

A história da elaboração do próprio livro seria merecedora de um livro. Como um dos três co-autores da biografia, Silva Fernandes, salientou, a ideia surgiu há cerca de 25 anos. E sempre que Salvador Caetano era chamado a dar o seu contributo, a resposta era invariavelmente a mesma:

"Deixe-se disso." Daí que a biografia do empresário seja bastante datada, terminando em 1996 e contando com cerca de uma centena de testemunhos – como Cavaco Silva, Mário Soares, António Guterres, Belmiro de Azevedo ou Artur Santos Silva, que agora são surpreendidos com registos escritos naquele tempo e retratos menos rugosos.

"Salvador Caetano – Fragmentos de Uma Vida" vale pelas histórias, públicas e privadas, que moldaram o homem, o cidadão, o empresário. Como esta: "... fiz também uma incursão muito fugaz pela política activa.

Aceitei ser candidato a presidente da Assembleia Municipal de Gaia pelo PSD [em meados da década passada]. Foi um erro porque o candidato a presidente de câmara – Manuel Moreira – apesar de ser boa pessoa, não tinha hipóteses politicamente." Ontem, na apresentação da biografia, Manuel Moreira, actual governador civil do Porto, estava sentada ao seu lado esquerdo e até fez questão de intervir para enaltecer a obra de Salvador Caetano.

"Não posso dizer que ele fosse mal empregado na vida política – outros o dirão! – mas a política activa não seria, em caso algum, compaginável com as suas responsabilidade de cabeça de lista dos seus dez mil trabalhadores, nem de 'deus ex machina' do poderoso grupo económico de que foi criador", enfatizou Almeida Santos, ex-presidente da Assembleia da República, a quem coube a apresentação da biografia.



Salvador Caetano nasceu em 1926 e começou a trabalhar aos 11 anos, como ajudante de pintor, na construção civil. Aos vinte anos cria a primeira empresa na indústria das carroçarias.

Em 1965 entra em laboração a fábrica para a construção de autocarros, em Oliveira do Douro, Gaia. Dois anos depois, com a auspiciosa ligação à multinacional japonesa Toyota, a empresa inicia um processo de crescimento rápido. O grupo detém actualmente mais de três dezenas de empresas e facturou 474,44 milhões de euros em 2003, a que acresce muitos outros negócios que integram a "holding" pessoal de Salvador Caetano.

Após 58 anos de vida empresarial, qual é a maior "espinha" que lhe continua "atravessada" na garganta?

Naturalmente que, numa actividade já tão longa, é evidente que há sempre "espinhas". A que eu tenho mais saliente na garganta, e que não consigo esquecer com facilidade, foi o esforço, o sacrifício que tive que fazer e a luta que tive de travar para conseguir o alvará para montar a fábrica de montagem em Ovar. Isto em 1968. Estávamos em pleno condicionamento industrial e tinha, nessa altura, como inimigo número um tal eng. Torres Campos, que era o director-geral da Indústria e que, de uma forma arrogante, disse-me um dia: "Enquanto eu estiver aqui, quem manda sou eu e você não terá o alvará." Eu levantei-me e exaltei-me de tal modo que lhe disse: "Quem é você? Você não presta", quase o insultei e ele ficou muito atrapalhado, vi-me embora e depois o assunto foi resolvido pelo eng. Rogério Matias, que era na altura secretário de Estado da Indústria.



Está a pensar reformar-se, retirando-se da presidência do grupo?

Para já, não. Eu sou presidente do grupo mas não tenho nada a ver com a [administração] executiva, mas sigo tudo a par e passo. Tenho os três filhos a trabalhar no grupo e um dos meus genros [José Ramos], que é o vice-presidente, mas sinto que ainda é muito importante que eu esteja cá para manter um certo controlo.

Já tem um sucessor escolhido?

Não.

Mas será com certeza um dos três filhos...

É possível. Isso será uma coisa que será discutida um dia, em reunião de família.

Mas quer ser o senhor a decidir?

Eu não quero decidir, mas quero primeiro ouvir os meus filhos e o meu genro e o que é que eles pensam. Em primeiro lugar, eu acho que devia ser um deles, mas pode também ser um estranho.

in Jornal de Negócios
Rui Coelho
Associado AJA Nº1

blardY


Infelizmente a vida é assim.
Mais um grande senhor que partiu, deixando para trás um caminho e o obra admiráveis.
Os meus sentimentos aos familiares e amigos.
Pedro Massa - Sócio AJA Nº10

RT

É uma pena ver partir uma pessoa como Salvador Caetano.

Portugal nunca terá um grande homem de negócios como este, que nunca desistiu do que queria e sempre se manteve pelo caminho certo.

Os meus sentimentos aos familiares e amigos, bem como a todos nós amantes da grande marca por ele representada.

Que descanse em paz, bastante merecida, após uma longa vida de trabalho e desenvolvimentos.
'87 Toyota Corolla AE86 | '89 BMW E30 316i | '90 Renault 19 16S | '91 Toyota Corolla CE90 2.0TD | '98 Suzuki Samurai 1.9TD | '22 Brixton Cromwell 125 | '23 Renault Captur TCe
Ricardo Tomaz

Kaizen

Empresário - O mundo de Salvador Caetano ficou vazio

António Freitas de Sousa 
03/07/11 18:55


Salvador Caetano morreu no passado dia 27 e com ele levou um mundo.

Teoria e prática da genealogia das sucessões em Portugal

Duro, mas justo. Era assim o homem que trouxe a Toyota e fazia parte de uma geração para quem o despedimento de um único funcionário não era uma medida de gestão mas uma mancha na pele.

O mundo aberto e multifacetado de Salvador Fernandes Caetano - nascido em 2 de Abril de 1926 em Vilar de Andorinho, Gaia - começou a fechar-se sobre si como se tivesse acabado de ficar vazio em 30 de Março deste ano, quando o amigo de sempre, parceiro de negócios e companheiro de trapaças bem dispostas, Laurindo Costa, desapareceu para sempre. A biografia definitiva do homem que em 1968 trouxe para Portugal a marca nipónica Toyota "para ficar e ficou mesmo" - como diz o 'slogan' inventado por outro amigo que também já anda por outras bandas, Artur Agostinho - dirá que o desaparecimento do antigo sócio maioritário do grupo Soares da Costa fechava um ciclo; mas, para o círculo mais próximo do empresário que morreu no passado dia 27, Salvador Caetano nunca mais recuperou: não era um ciclo que se fechava, era um mundo que desaparecia. "Nunca mais foi o mesmo", disse ao Outlook fonte próxima da família.

Com Salvador Caetano desaparece uma casta de empresários que moldou parte importante da economia portuguesa desde o período imediatamente posterior à II Guerra Mundial, e que partilha uma série de denominadores comuns que são, de algum modo, a história da indústria nacional do século XX. São homens que se fizeram na tarimba do óleo de linhaça das pesadas máquinas industriais, em detrimento dos bancos das universidades; que carregaram como puderam o peso de um condicionamento industrial (anterior a 1974) que os mantinha numa fronteira para lá da qual estavam os banqueiros e uma mão cheia de empresários enredados com o regime de António Salazar e mais tarde com o de Marcelo Caetano; que mantiveram o pulso nos anos de fogo do PREC sem viajarem para paraísos tropicais; que manifestaram sempre um enorme pudor em ostentar a riqueza que amealharam e um mal-estar em frente a microfones, máquinas de filmar e holofotes; e assumiam um despedimento (um único que fosse) não como medida de gestão, mas como uma mancha dolorosa na sua própria pele.

Juventude adiada

A história adulta de Salvador Caetano começou aos dez anos, em 1936 - num país que encerrava as fronteiras com medo do que se passava do lado de lá, entre republicanos a chegar ao poder em Madrid e oposicionistas que punham a Luftwaffe a voar nos céus de Espanha num ensaio para dali a três anos - foi trabalhar para a construção civil e logo depois para a pintura de automóveis. Com os primeiros ordenados, comprou uma bicicleta.

Fartou-se depressa dos patrões e das argamassas, mas não dos automóveis: aos 20 anos fundava uma pequena oficina, juntamente com o irmão Alfredo e com o amigo Joaquim Domingos Martins, com um capital de 30 contos (150 euros). Não correu bem. Salvador perdeu os sócios, mas não a vontade de fazer por si aquilo que achava que estava certo e, a partir de 1952, outra vez sozinho, percebeu que havia mais mundo; e que se ele não chegava cá era preciso ir lá fora buscá-lo. Foi um precursor dessa estratégia que, umas décadas volvidas, ascenderia à condição de verdade insofismável: a capacidade de um empresário se entender com os seus congéneres no exterior seria a medida do seu sucesso a prazo.

Foi nessa certeza que Salvador Caetano introduziu em Portugal as técnicas de construção mista de carroçarias: madeira e perfis de aço. Três anos depois, em 1955, optava pelas metálicas, porque percebeu que era essa, nas feiras e certames que visitava, a opção internacional. Mas não chegava copiar: era preciso estar à frente na inovação. Debaixo desta certeza, fechava um acordo com a britânica Metro Cammel Weman, segundo o qual a empresa portuguesa partilhava as sabedorias que se iam descobrindo além-fronteiras. Foi o primeiro de vários acordos semelhantes, com diversos grupos internacionais.
O ano era o de 1961, o mesmo em que conseguiu um dos seus contratos mais promissores: a venda de 12 autocarros de dois andares aos Serviços de Transportes Colectivos do Porto.

O senhor Toyota

Pouco tempo depois, em 1964, Salvador Caetano voltava a perceber outra coisa antes de muitos outros: a diversificação poderia não apenas promover o aumento dos proveitos do grupo, mas também reduzir riscos perante um eventual emagrecimento do mercado das carroçarias para pesados. Com nove amigos - sempre os amigos - fundou a Transmotor, para representar e vender em Portugal veículos pesados de mercadorias e passageiros das marcas Leyland, Albion e Scammel.

Era o primeiro passo na representação de marcas internacionais, que culminaria em 1968 - já depois de, em 1966, o grupo ter assumido a designação de Salvador Caetano Indústrias Metalúrgicas e Veículos de Transporte - com o início da importação da nipónica Toyota, após ter tentado, sem conseguir, importar a marca Ford. A estratégia tinha riscos: a marca era quase desconhecida; as soluções de 'design' não eram as mais consensuais face aos padrões europeus e o mercado ainda desconfiava da tecnologia asiática.

A estratégia do grupo revelou-se acertada, e o governo de então soube reconhecer isso: Salvador Caetano pôde contar pela primeira vez com três anos de isenção de impostos sobre os lucros, como forma de elevar o contributo das suas actividades para a economia. Mais importante: a isenção era mostra de que o grupo estava a vencer a batalha contra o condicionamento industrial - que já então muitos economistas consideravam uma aberração sem sentido.

Os anos da Revolução

Os acontecimentos de 25 de Abril de 1974 não podiam ficar à porta da empresa e, por muito que Salvador Caetano mostrasse ser um patrão compreensivo e preocupado com o bem-estar de quem trabalhava para ele, a Revolução entrou portas adentro sem pedir autorização. O senhor Toyota, como começava a ser conhecido, ficou agastado com o ambiente de conspiração que passou a viver-se por entre as carcaças dos camiões e não tolerou que, num dia mais quente que o costume, um dos seus administradores tivesse sido alvo de uma tentativa de sequestro.

Engendrou uma estratégia de ataque: dirigia-se às instalações fabris munido de um banco, subia para cima dele e explicava o andamento da empresa, as perspectivas de futuro e os riscos que se adivinhavam. Fazia como se partilhasse com todos o destino do grupo - coisa que nunca lhe terá passado pela cabeça. Os ânimos acalmavam e os trabalhadores voltavam às carcaças dos pesados. O certo é que o grupo escapou às nacionalizações anunciadas a seguir a 11 de Março de 1975, assumindo a condição de maior conglomerado privado da economia de então. O fundador do grupo acabaria por fundar a imagem que dele acabaria por ser aceite como verdadeira pelos colaboradores: "É duro, mas é justo".

Uma viagem a Inglaterra

Terá sido o que aprenderam, há cerca de uma década, os colaboradores das empresas do grupo no Reino Unido. Salvador Caetano viajou para Inglaterra e convidou os colaboradores para jantar num restaurante a duas horas de viagem de Londres.

Entre sorrisos necessários e alguns esgares de aborrecimento pelas dificuldades de comunicação, os colaboradores lá iam espiando Mr.Caetano, que se mantivera calado durante o jantar. Aquilo estava quase a acabar e nem tinha corrido mal. Até à sobremesa: então, usando um inglês que não passaria nos exames de acesso a Oxford mas mais que suficiente para dar a entender ao que ia, explicou que "ou vocês trabalham mais e melhor ou eu fecho as empresas que tenho em Inglaterra". Curto e grosso, como costuma dizer-se, o que deixou os colaboradores estarrecidos e esclarecidos.

A dureza e a justiça da postura de Salvador Caetano foi a chave-mestra da sua vida de trabalho de 75 anos, que só acabou há meia dúzia de semanas, quando o fundador do grupo deixou de visitar as fábricas que pôs em pé. Preparava-se para descansar.

in Diário Económico
Rui Coelho
Associado AJA Nº1